Jovem em Governanças da Sociedade Civil
- Carol Xavier
- 17 de jan. de 2022
- 4 min de leitura

O fluxo de migração para as cidades até 2050 quase duplicará, segundo a Nova Agenda Urbana do Habitação Conferência das Nações Unidas sobre Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável - Quito - Equador 2016), portanto, nas próximas décadas aumentarão ainda mais a pressão e o desafio da gestão pública para os municípios darem respostas e entregas mais rápidas e eficientes. Enorme desafio quando se sabe das dificuldades burocráticas, tecnológicas, de gestão e humanas hoje enfrentadas.
Pode parecer que, quando se fala do processo de migração urbana, um dos itens das megatendências, está-se falando de algo macro, distante da realidade de quem está nas cidades. Na verdade, é nas cidades que isso ocorrerá, e é nos municípios que se encontram os cidadãos, a sociedade civil organizada, capaz de iniciar um processo de mudança por um modelo de gestão pública e de sociedade mais eficaz.
Felizmente, essa mudança já está acontecendo em inúmeras cidades pelo Brasil, desde as grandes até pequenas, e tem despertado o engajamento da sociedade em atuar, juntamente com o setor público, no plano de futuro para as cidades, assim como ser a guardiã do desenvolvimento do plano e projetos para que estes não naufraguem com as descontinuidades políticas. Esse engajamento tem se apresentado na forma de conselhos, associações, institutos etc., formados, em sua maioria, por lideranças empresariais, líderes de entidades, universidades e governo.
Os desafios para as governanças da sociedade civil são muitos, a começar pela mudança de "mind set". Segundo Leopoldo Albuquerque (Instituto Smart City Business America), "mudar o sistema ou o senso comum não será uma tarefa fácil ou rápida; nossa própria formação cultural nos legou como herança o patrimonialismo, o conceito de que tudo provém do Estado, e reinterpretar esses valores exigirá muito tempo. Apesar de desejarmos que tudo se resolva em nossa geração, o máximo que podemos fazer é promover as mudanças necessárias para sair do patamar atual rumo a um novo patamar, mas apenas um degrau após outro, para que repassemos essa missão aos nossos descendentes, que continuarão a transformação, até que um dia ela se complete e o Brasil tenha orgulho de suas instituições e gestores públicos, zelosos pelos recursos alheios e eficientes em transformar ideias em ações que deem qualidade de vida a toda a população".
Certamente, com o fortalecimento de governanças da sociedade civil e sua disseminação, um novo modelo de gestão pública deverá se estabelecer, quiçá mais ágil, desburocratizado, gerido por entregas de resultados, bem como surgirá um modelo de desenvolvimento socioeconômico e urbano de longo prazo e continuado. Os degraus a serem escalados pelas próximas gerações, quem sabe, serão menos íngremes, com o jovem de hoje que se inicia como empresário, funcionário, líder de sua comunidade, representante de seu setor do amanhã, fazendo parte de uma sociedade engajada e consciente, executora de seus direitos e principalmente de seus deveres.
A partir desses desafios e cenários postos, quais os meios pelos quais os jovens de hoje podem ser sensibilizados e atuarem na construção de um novo modelo de gestão pública e de engajamento da sociedade civil? Felizmente, a resposta a essa pergunta leva a várias possibilidades, sendo algumas delas, as lideranças mais experientes e engajadas incentivarem o jovem para o empreendedorismo cívico-social, a aproximação dos jovens presentes nas instituições de ensino superior, contribuindo com projetos nas governanças da sociedade civil e a disponibilidade do jovem para a tecnologia e conectividade a serviço da cidade.
A participação dos jovens em governanças da sociedade civil e na aproximação com a gestão pública é pouco representativa, o que é antagônico, pois eles é quem herdarão a continuidade e os frutos das iniciativas hoje tomadas. É bem verdade que, em algumas entidades, os jovens se encontram engajados, por exemplo, em núcleos empreendedores, associações comerciais e câmaras de dirigentes lojistas (CDL's), empresas juniores, nas instituições de ensino superior, em entidades como Lyons e Rotary, entretanto carecem de ser sensibilizados, capacitados e desafiados a entenderem a que vem a ser o empreendedorismo cívico-social e integrarem governanças da sociedade civil em seus municípios que pensam no futuro, planejamento e desenvolvimento das cidades.
Outro meio de os jovens serem inseridos no processo de empreendedorismo cívicosocial é quanto à contribuição dos graduandos, estudantes de mestrados e doutorados. Estes estão presentes em todas as cidades e, durante sua formação, sejam horas de atividades acadêmicas complementares, projetos de extensão e pesquisa ou monografia, dissertações e teses, poderiam ser convidados a conhecerem a pauta de projetos das governanças da sociedade civil e da gestão pública e terem a oportunidade de adotar temas de interesse em suas pesquisas, bem como de realizar estágios. Ganhariam a governança da cidade, ao ser atendida uma demanda bem como o estudante se debruçaria sobre algo prático na sua especialidade, um jovem que, hoje, contribui e conhece um pouco da governança e da gestão pública e amanhã poderá ser um integrante engajado.
No que se refere à tecnologia e conectividade, os jovens têm velocidade rápida de criação e aprendizado, estão abertos às mudanças, e, praticamente, todos os sentidos funcionam concomitantemente, vídeos, redes sociais, músicas, ao mesmo tempo em que estão com os amigos, nas ruas. A inserção desses jovens em governanças da sociedade civil e na gestão pública certamente trará novas formas de pensar e realizar projetos, de dar respostas ao cidadão e à cidade, no mínimo mais ágeis, transparentes e compartilhadas.
Márcia Santin - Consultora e palestrante na área de formação de governança da sociedade civil e planejamento estratégico de cidades. Ex-diretora Executiva do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá (CODEM).






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